segunda-feira, agosto 15, 2005

Reportagem de ontem no Fantastico, crianças ricas e crianças de favela falando dos medos/monstros, perplexidade por ver que uma criança conhecia e falava com brilho nos olhos de armasssssss, putz, a casa tá caindo... Hj pela manhã minha querida prima me presenteou com a sua brilhante análise do mesmo fato, a mulher domina, engenheira, guandalini, tem futuro, hehehe Beijosssssss guria!

"Medo!

Quando eu era criança, morria de medo do bicho papão e do morcego que morava na árvore em frente de casa. Fatos marcantes da minha infância. Do bicho papão me livrei fácil, até porque ele nunca teve uma forma definida na minha mente. Deve ser esse o motivo do meu temor, medo do desconhecido. Mas o pessoal lá em casa vivia dizendo que ele não existia. Resolvi acreditar.

Agora do morcego tenho medo até hoje, sorte que ele não mora mais na minha calçada, mas de vez em quando ainda nos esbarramos.Meus incríveis desenhos de infância eram repletos de casinhas felizes, árvores verdinhas, montanhas e o sol sempre sorrindo. Gosto de algodão doce, sonhos em nuvens macias.Adorava os super heróis, embora seja desmemoriada lembro bastante do Batman, com seu batmóvel. Meus sonhos de infância eram tomar a poção Gummy e nadar no Rio do Todynho. Um mundo lúdico aos meus pés, parte fundamental da construção do adulto que sou hoje.

Ontem eu chorei ao ver uma reportagem na TV. Entrevistaram algumas crianças de bairros nobres do Rio de Janeiro e outras da favela do Vidigal. Medo? As mais abastadas dizem ter medo de assassinos e dos adolescentes da favela. As crianças do morro afirmam temer a polícia e o "caveirão". É triste dizer, mas até ontem eu ignorava que o "caveirão" é a denominação do carro blindado utilizado pela polícia para subir o morro em operações de combate ao crime.

Nos desenhos dessas crianças, o marrom se sobressai e só perde destaque para o preto do caveirão. O sol sempre triste. É isso que elas desenham para representar a casinha feliz dos meus desenhos de infância. Gosto de arroz e feijão. Sabor da realidade. Nuvens cinzentas. E o batman com seu batmóvel? Acho que não existem mais! Foram substituídos pelo medo da polícia e o caveirão. Sonhos? Hummm...sobreviver deveria ser um sonho?Passados os primeiros cinco minutos de revolta e indignação, fiquei com vergonha de mim. Rubor com gosto de egoísmo.

Muitas vezes me perco dentro da minha imensidão interior que me esqueço de olhar ao redor. Problemas do dia a dia, a rotina massacrante.... parece que o mundo é feito só dos meus problemas. Ou então, me acostumo ao caos, boto em prática o "cada um por si e Deus contra todos". Vejo um mundo em preto e branco todos os dias e me esqueço que na verdade ele deveria ser colorido. Fico impotente, imóvel, inerte, alheia. Acho que até hoje eu nunca vi uma arma de fogo pessoalmente. O som dos tiros só conheço dos filmes que assisto. Me arrepia pensar que para muitas pessoas, essa é a trilha sonora do lar. Sei que quando eu ficava com medo do bicho papão, corria para os braços dos meus pais que, compadecidos da minha aflição, explicavam pacientemente que o tal monstrinho não existia e que se acaso ele resolvesse dar o ar da graça, acabariam com ele. O mesmo a gente não pode dizer para as crianças com medo do caveirão. Dá vontade de juntar todo mundo e levar para morar lá na minha infância"

Alguem me diz onde é esse rio de todinho, largo tudo pra ir lá! Saludos!

2 Comentários:

At 9:41 AM, Anonymous Anônimo bicou...

tadinhas.... mto triste isso :((((

ñ sei o q é isso, ñ precisa viver pra saber =////

iludidas são as dos bairros nobres... mal sabem q os favela são vítimas indefesas desse sistema tão selvagem, tão cruel =(

 
At 10:28 AM, Blogger Cristina Boeckel bicou...

João, alguma vez você já viu este carro blindado que a polícia utiliza para entrar no que eles chamam de "áreas de risco"? Cara, porque até eu, com 23 anos, tenho medo do caveirão...

 

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